quarta-feira, 22 de março de 2017

Poeminha punk.

O escritor ao mesmo tempo em que está em seus personagens, não é nenhum deles. Escrita é deboche, é faca de dois gumes.


Os calafrios voltaram a visitar o meu corpo, me causando dor e arrepios. E mesmo com experiência de sobra com este sintoma, ainda alimento a dúvida sobre o que mais me dói, se é senti-lo ou tentar desesperadamente conte-lo. Há quem diga que se escreve melhor quando se está deprimido. Não gosto de alimentar esses fetiches. Faço pior. Ouso a questionar: Há de acumular tanta tristeza e se manter forte e orgulhoso de si? Ninguém sabe sobre os mistérios das contraposições que rondam essa vida. A parte mais inteira de nós, quando se sofre, mas se permanece inteira -admitindo ser possível conseguir não se fragmentar- são as palavras e talvez elas substituam Deus, compram a função social deve e assim evite que se cometa morte contra a própria vida, enquanto gira uma engrenagem que a gente jamais compreenderá. Caso experimente entender, o que o espera é um caminho fadado ao tédio ou da assombrosa loucura. Essa que nos ronda, que nos invade, nos amedronta, que abre nosso crânio com as mãos, rasga nossa pele e nos enfia pesadelos. Onde nasceu o trauma que me tira o chão dos pés? Que me faz deixar cair do corpo tudo que é delicado e eu corajosa e delicadamente desejo tanto segurar. Caio, me arranho, sangro, choro. Vou ser perdoada? Deixei quebrar, deixei sumir, eu to com culpa -merda- sei que deixarei morrer. Meus olhos acordam inchados. Você estava dormindo? Sim,estava. Mentira deslavada. Acostumei. A parte mais gostosa da sua vida não é quando acreditam em suas mentiras, mas quando não creem em sua verdades. E criam mentiras para si mesmas e passam a acreditar nelas. Eu não entendo porque o fazem. Apenas gozo e gozo várias vezes. Afinal quem dedos nas mãos ... Escreve! E se salva, inventa e imagina diálogos que nunca acontecerão, ou não da forma como sua cabeça constrói e alimenta. Mimada, você acha que ninguém é capaz de compreender seu interior -e não são mesmos- mas tão pouco voce consegue fazer o mesmo. Você jura de neurônios juntos que essa mente de ervilha é capaz de adivinhar o outro. O fato é que você sozinha, é só você mesma, antes de sentir o outro. Depois que ele chega, já não se sabe de mais nada. E tua conversa já foi pro buraco. O que existe é só o nada na cabeça que especula. A nossa consciência corporal existe quando sentimos dor pincipalmente, por exemplo, quando você corre, seu coração dispara, sua respiração acelera, voce tem a impressão de que vai morrer e tudo isso é óbvio, previsível e não importa. Mas quando ele aperta ou acelera sem motivo é que voce consegue saber que ele existe de verdade, é quando você presta atenção naquela coisa que se meche e dói e voce não vê e que não foi explicado nas aula de biologia. Voce sente cacos de vidro no sangue. E isso não é seu corpo, é sua cabeça, bobagem da sua cabeça, mas que tá em todo seu corpo, fazendo voce conhecer cada órgão dele. Fazendo voce sentir que as coisas estão vivas dentro de voce, mas só nesse momento, não é mais uma abstração. A nossa cabeça cria dor que deixa a gente assustado. Morte de verdade, de verdade. A gente conversa tomando café. É abstração concreta como cimento e leve como uma pena, a gente zomba e tudo. "vou me despedir com um rápido e dramático desmaio". E a gente inventa piada. E tudo fica livre e engraçado porque não há a tal consciência corporal. Porque nessas horas a gente não lembra do coração. E ai nós jogamos com a vida. Nós que somos blindados com a herança genética do orgulho, sentimos muito poder em jogar. O poder escorre pelos nossos poros. Temos o mundo dançando nas nossas mãos, controle de uma vida onde não existem limites. E eles de fato não existem. Somos capazes de desbravam grandes e pequenos cantos durante horas. Transformar lugares que nunca estivemos, em lugares seguros. Somos completamente livres e completamente solitários. Não fazemos dívidas, não pedimos favores. Somos plenos e livres. Preferimos estar só a estar preso. Esfregamos o corpo na corda que nos aprisiona até ela ruir. Depois voltamos sem corpo, sem palavras e sem alma para que nos aprisionem de novo. Estamos em pânico. Ninguém se escuta. Gritam, se apontam, mutilam com o olhar. Mais pânico. Nossa boca amarga nosso próprio fascismo. Que gosto de fel. Vomito, não como, me escondo. Olhares me rondam de todos os lados. Querem minha cabeça cortada e servida na bandeja. Vão servi-la com máscara. A melhor da vitrine, linda, brilhante, branca, exemplar. Vão devorar meus fios, meus pelos. Eles estão cheios de vermes que saem por sua boca, anus, unhas. Mas todos tem tão boa aparência. Não são os porcos gordos que me devoraram, é algo mais sutil, mais cruel, confuso e totalmente relativo. Em tempo, minha máscara racha, eles, se tornam monstros ainda mais elegantes, simpáticos, doces, compreensivos e belos. Os cacos da máscara foram meu rosto e o sangue que escorre é agora um saboroso vinho, que tomo, enquanto torno suportável eu ser eu. Sou gente de opinião. Autoritária, maledicente e arrogante. Largo os cigarros e as paixões quando desejar. E ponho fogo no mundo se quiser, caso prefira, me queimo com as paixões. E digo não quando quero. E paro se quiser. E vou se tiver com vontade. E coloco tudo a perder agora. E largo um grande foda-se para tudo. Hummm. É uma capital, das grandes, de egoísmo que habita em mim, que saliva minha língua, que me toma as entranhas e se enfia entre as minhas pernas. Deliciosas e molhadas pernas. Quem inventou os sintomas, inventou tudo, todos os nós sempre os tivemos, sem saber seus nomes. Sendo só complexidade do humano. Sendo o humano bicho esquisito. Tá vendo como o ser humano é? Não presta não. Tem jeito não. Você ainda acredita nas pessoas?. Antes era isso, mas agora temos tudo e temos nome pra tudo e temos um mundo desgraçado totalmente dopado. Que grande merda!!! Estamos insistindo no que? Eu. Amo as pessoas. Amo mesmo. Amo muito. Gosto de todos os corpos. Meu estranhamento dura tão pouco. Que na minha frente existem almas, essa almas que amo. Amas que me abraçam sujas, que tem história, que jogam conversa fora, que eu devoro sem compromisso, que estão dispostas a serem cheiradas por mim. Ah! Essas almas querem meu colo, pedacinhos da minha alma. Tirem as mãos de mim, almas penadas. Eu corro, quero fugir, corro muito. Corro para sentir apenas meu coração físico, coração sem cabeça. Até eu estar viva e só. Até o tempo ser horas e mais nada. E apenas isso. Eu admito, não sou boa com jogos. Ultima colocada no jogo da vida. Que criatura insegura e imprestável aparece na minha frente. Se espera o próximo acontecimento, que vai mesmo acontecer e sabemos. E ainda sim nutrimos ansiedade. E de novo, não entendo, não compreendo porra nenhuma. Saiam dos meus órgão. Eu vou sair para lamber cada órgão do medo, pra ele descobrir o que é arrepio de verdade e na hora da foda, enquanto ele estiver estirado e tremulo, serei eu a estar por cima. Não consigo mais lidar com as pessoas. Acho que sou sensível demais para esse mundo!


A faca de dois gumes e o deboche existem para nos salvar da e salvar a e não ser salvadora da humanidade e nem de porra nenhuma. Afinal a salvação nunca existiu. Então sigam agonizando no amargor das suas próprias contradições. Se um dia tiverem opinião na vida, seus coitados, talvez sejam capazes de se perdoar.


Que a escrita esteja sempre conosco. Ela está no meio de nós. Amém.