Por ter textos antigos que gostaria de compartilhar com os "espectadores-escritores"* penso em intercalar com os novos, assim podemos construir e re-construir minhas reflexões, se possível de forma coletiva, que jamais serão como a leitura anterior ou posterior, o que torna o resgate sempre rico. Como o "homem que atravessa o rio".
*"Veio a aristocracia e estabeleceu divisões: algumas pessoas iriam ao palco e só elas poderiam representar enquanto que todas as outras permaneceriam sentadas, receptivas, passivas: estes seriam os espectadores, a massa, o povo. (...) Primeiro se destrói a barreira entre atores e espectadores: todos devem representar, todos devem protagonizar as necessárias transformações da sociedade". (Augusto Boal)
Este pequeno texto pode ser encarado como a continuação de minha apresentação...E ao pensar em postá-lo, me atravessou inconscientemente pela cabeça, um filme que chama: "Sem teto, sem lei". Não tenho nenhuma explicação lógica para tal fato, talvez vocês a encontrem, mas de qualquer forma: bom filme!!!
Por acaso isso são modos, menina?
Me privam do sujo, do cheiro, do pelo, de tudo que não é aparentemente belo. Controlam o volume da minha voz e as minhas pernas abertas. Me fazem ser inferior através da hierarquia, ter vergonha do desconhecimento, ser ridícula nas dúvidas. Silêncio sem escuta, silêncio obediente. Cortam minhas asas, transformam a moral em regra e o desvio em constrangimento. Repressão e auto punição são as únicas formas de se lidar com os desejos. Censuram meus sentidos, minhas caras, querem apagar minhas expressões, afinal, ser sincero é feio. Cabelos comportados e unhas limpas, sempre. O que há de diferente é zombado, excluído, rechaçado. Me tiram o direito de raiva, de angústia, me cobram sorrisos falaciosos, com dentes preferivelmente brancos, sem defeitos, sem feijão, sem humano.
Maria Carolina Abreu, 30 de outubro de 2013

Esse texto eu adoro!
ResponderExcluirEle tem cheiro, de suor.
Ele tem cor e tem sabor...