Bia
sem vírgula.
A
jovem Beatriz caminhava na 1º de setembro da mesma forma de sempre seus pés são
raízes capazes de cravar o solo enquanto sua cabeça faz rodopios pouco
perigosos pelo ar. Bia mesmo sendo tão nova é servidora pública e tem uma vida
financeira estável ao ponto de ser uma tarefa difícil compreender como aqueles
olhos - grandes pretos que ora são capazes de despir seu interior ora estão perdidos
transpassam mundos estão apáticos inertes meio sem vida com vontades mirando
horizontes mortos- conseguem se alinhar ao pragmatismo da produção que não
fecha nunca e escorre para todos os cantos de nossa vida percorrendo o corpo e
massacrando a vida que habita na cabeça. Bia tinha dias de melancolia e dias de
solidão e na sua corrente sanguínea corria uma doença chamada impulso. Essa doença dividia opinião dos
estudiosos tinha um grupo que buscava a qualquer custo a cura deste mal havia
muito investimento do governo junto a umas parecerias bastante duvidosas para
financiamento de pesquisas e estudos sobre a mesma por outro lado os egoístas
sem conhecimentos específicos ou científicos que colocavam tudo aquilo em
relativo diziam que não deve existir fórmula para se curar a dor daquela coisa.
Mas não se tratava apenas de Bia a maioria de seus amigos sofriam daquela enfermidade
também. Os corpos infectados por aquele mal estavam em risco durante um tempo incalculável
e imprevisível vagavam em um lugar vazio frio e escuro arrastando correntes
pesadas gritavam sem que ninguém fosse capaz de escutar ...
Um dia Bia começou a sair com um cara que era
a representação máxima dos seus não quereres e conforme saíam mais ela se
apaixonava mais o seu sentido desaparecia mais envolvida ela estava. Suas
raízes foram cortadas e era ele que andava com seus pés o sangue que escorria
parecia aliviar as dores da impulso e
ela se sentia feliz por isso mas no lugar das dores viam umas dúvidas que não
se deixavam calar e pareciam coceira no cérebro. A coceira por sua vez parecia
que fazia os sintomas da impulso saltarem
pelo corpo e logo em seguida vinha uma tristeza devastadora como um deserto
rasgado de um sentimento árido que fazia a boca secar salgar e fazer sair areia
por todos os orifícios do corpo. Bia queria se entregar ao linear da vida
segura plena que a fizesse bailar leve como uma brisa deslizar dançando
rodopiar com o corpo livre em pedaços que flutuam como delicadas penas no ar.
O
que poucos sabiam é que Bia secretamente fazia coisas pensava planejava pulsava
explodia pelos cantos da cidade e queria como uma ansiedade na espera de uma
chegada deixar a vida plena e poder fazer tudo que era ela se experimentar ao
limite conhecer tudo que tem em si tudo! Não é que não haja algum prazer no
pragmatismo da produção e na relação com o avesso - se ela está alguma coisa
tem - mas é que ela não está ali mas quanto menos ela está mais medo mais temor
que a doença se agrave e ela termine em estado grave ou nem mais aqui.
Essa
maldita doença estava a ponto de enlouquecer a cabeça de Bia era uma doença
ardilosa escorregadia contraditória com sabor de perfume ácido se Bia caminhava
pisando nos passos que já estavam no chão no tamanho do seu pé pro caminho
escolhido sentia que os sintomas se acalmavam e seu coração conseguia não
correr por sua garganta mas conforme caminhava um passo de cada vez pra lugar
nenhum e seus pés não se ligavam a sua cabeça seu corpo esquentava sua nuca
pegava fogo o corpo contraia as pernas tremiam não tinha mais controle algum sobre
si e era a hora que a patologia se manifestava com em sua face mais voraz e embora
se assustasse com aquilo queria rasgar seu corpo com as mãos e que toda a luz
do mundo pudesse engoli-la para que então ela pudesse sugar o mundo com uma
respiração e sua alma ficar dormente de prazer. Mas Bia logo depois via o
tamanho da estupidez de se caminhar ao precipício sabia que a ciência a cada
dia avançava e fazia novas descobertas que eram colocadas em cápsulas.
A
doença se tornou uma epidemia e os remédios eram distribuídos em campanhas
de vacinação por toda a cidade. Beatriz chorava uma tempestade de gotas grossas
que doíam para cair de seus olhos e não conseguia parar de pensar na cura tinha
um desejo insaciável de se sentir amada, como um machucado que não se deixa
cicatrizar no entanto era preciso que alguém o costurasse amarrasse suas mãos para
não deixar coçar era necessário matar tudo que tinha naquele machucado. Beatriz
está agora em um lugar fundo e tampado como se tivesse sido engolida por um
buraco finalmente pode estar dentro de algo que é por ela para que ela não
tenha que sentir o buraco em sua vida a epidemia está controlada o
governo tem sido vitorioso.
Bia não pode mais parar no meio do caminho.
Bia fez a vírgula de rede. Talvez seja um princípio de resistência.