segunda-feira, 4 de maio de 2015

Dadaísmo. Existência, protesto e reconhecimento. Pixo, terceirização e loucura.








"Destruição também é criação" 



 Existência, protesto e reconhecimento. 

Era a frase a cima que os pichadores no filme "pixo", com sua forma de comunicação pareciam afirmar. Cenas para refletir: Um dos garotos se dizia que era "meio analfabeto" para ler o que estava escrito em letras de forma, mas lia todos os pixos. Outro, disse que quando parou tinha que tomar remédios, e se questionava porque fazia aquilo se ele mesmo sabia a terapia para continuar bem: voltar a pichar. Por último eles entram em uma universidade a picham toda em quanto enquanto estudantes e professores gritam histéricos. Não é grafite, é pixo. É proibido, é uma forma de estar e se comunicar com o mundo, é lugar de existência. Volta e meia as terceirizadas que trabalham na minha universidade ficam sem receber e às vezes fazem paralisações, no dia a dia, ninguém fala sobre elas. Quando os lixos começam a aparecer ou os jovens tem que subir alguns lances de escada, elas deixam de ser invisíveis. Só quando o hospital universitário está sem condições de funcionamento devido a falta do serviço mais precarizado, lembram de suas existências. Lendo um caso clínico de uma paciente de frequentes internações, o texto narra a história de uma mulher que só era concebida na cidade e nos serviços, através de sua agressividade, nos demais momentos era sempre como se não existisse, ela não era um sujeito com muitas histórias e desejos, ela era doença, era agressão. 

A cidade talvez só conviva com reconhecimento da existência da pobreza, da exploração, da loucura, da criação, da potência, da história dos invisíveis dentro do limite do caos. 

Os ouvidos tapados, 
os olhos vendados, 
e as palavras, 
só quando engravatadas.
As portas estão fechadas,  
a arte formatada, 
a universidade elitizada. 
Os pulsos cortados 
pela sexualidade
reprimida, 
pessoas que nascem
sem direito a vida.
Gente que mata pelo
ódio da
diferença
Gente que morre
com tiro
da indiferença.
A policia tortura,
dá dura
as celas tão abertas
para as pessoas certas.
Essa educação
que só te ensina a ler 
letra de forma
de tão quadrada 
parece uma forca.
Te encarceram, 
te dão remédio,
mas loucura mesmo
é viver nesse eterno tédio.
Não se combate pobreza 
com falta de liberdade,
o único jeito é
a gente engolir a cidade.
Toda nossa destruição
acabará com esse padrão,
essa restrição,
com a estupidez
da uniformização,
da formatação,
da normatização.
Acabará com o culhão do patrão,
com sua milionária prisão,
e seu perverso camburão.
Seria possível
um mundo livre
e sem exploração?
Vida longa  
a irreverencia
da pichação!





Maria Carolina Abreu.













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