quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Quando a ressaca do mar chega.

Quando a ressaca do mar chega.

Minha cabeça doía a ponto de eu não conseguir abrir meus olhos. Mas eu sabia que era conseqüência.  Que se arrasta mesmo quando aquela gostosa sensação já passou.
Meus pés firmaram o chão, os dedos sentiram a terra e eu pude andar correndo sobre pequenas pedras que não incomodavam minha pele, porque eu era extensão do que eu tocava.
É aquela sensação de ver a vida miúda, enquanto estou em plena expansão. Como se o corpo nem importasse mais, porque nenhum limite é material o suficiente para frear o deboche que me dominou e que me faz rir da vida, me faz senti-la como um sopro que carrega qualquer dor.
A alegria pulsa nos meus centímetros. Nada é assim tão importante, e aquela saudade que apertava e era incontrolável vai aos poucos sumindo; aquilo que era tudo evapora; aquele nó que não se desfazia se desenrola até as pontas das cordas não se enxergarem mais. Nem mais, nem menos, nem movimento algum, aquilo que eu tanto queria experimentar e não importa mais.
Desencontros insuportáveis, encontros pouco prováveis. E tudo segue acontecendo. E naquele momento eu podia viver tudo no lugar cego onde mora o prazer. Uma sombra sem hipocrisia, só sombra, que vaga e sente vaga e fica. E tinha o desejo que todo o resto assim  fosse e se poupasse do dever de carregar suas correntes invisíveis.
Mas o que seríamos sem ela? O vazio não me assustava naquela hora, era a maior fonte de preenchimento de mim até eu explodir de mim, era eu em minha face mais crua.

O barco segue navegando de forma tranquila nesses momentos, onde as ondas brincam de baixo da superfície, sem terem que ser ondas... Até chegar a ressaca do mar e proibir a brincadeira! E me jogar contra as pedras. Agora, que aqueles segundos passaram tudo dói. É conseqüência, ela sempre vem. Tenho o corpo cheio de pecados. 

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