Quando a ressaca do mar chega.
Minha cabeça doía a ponto de eu
não conseguir abrir meus olhos. Mas eu sabia que era conseqüência. Que se arrasta mesmo quando aquela gostosa
sensação já passou.
Meus pés firmaram o chão, os dedos sentiram a
terra e eu pude andar correndo sobre pequenas pedras que não incomodavam minha
pele, porque eu era extensão do que eu tocava.
É aquela sensação de ver a vida
miúda, enquanto estou em plena expansão. Como se o corpo nem importasse mais,
porque nenhum limite é material o suficiente para frear o deboche que me
dominou e que me faz rir da vida, me faz senti-la como um sopro que carrega
qualquer dor.
A alegria pulsa nos meus
centímetros. Nada é assim tão importante, e aquela saudade que apertava e era
incontrolável vai aos poucos sumindo; aquilo que era tudo evapora; aquele nó
que não se desfazia se desenrola até as pontas das cordas não se enxergarem
mais. Nem mais, nem menos, nem movimento algum, aquilo que eu tanto queria
experimentar e não importa mais.
Desencontros insuportáveis, encontros pouco
prováveis. E tudo segue acontecendo. E naquele momento eu podia viver tudo no
lugar cego onde mora o prazer. Uma sombra sem hipocrisia, só sombra, que vaga e
sente vaga e fica. E tinha o desejo que todo o resto assim fosse e se poupasse do dever de carregar suas
correntes invisíveis.
Mas o que seríamos sem ela? O
vazio não me assustava naquela hora, era a maior fonte de preenchimento de mim
até eu explodir de mim, era eu em minha face mais crua.
O barco segue navegando de forma tranquila
nesses momentos, onde as ondas brincam de baixo da superfície, sem terem que
ser ondas... Até chegar a ressaca do mar e proibir a brincadeira! E me jogar
contra as pedras. Agora, que aqueles segundos passaram tudo dói. É conseqüência,
ela sempre vem. Tenho o corpo cheio de pecados.
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