Ela
não sabia cantar como as belas meninas da pequena cidade que ao entoar um canto
pareciam ficar ainda mais bonitas com vozes que surpreendiam por não ser a voz
com que falavam. A jovem de pele verde com os membros trocados por todo o corpo
sequer sabia cantar, nem essa graça lhe foi concedida. As moças que andavam de
braços dados preservavam um cheiro bom que circulava nos cantos dando um tom
impecável ao ar. A menina verde observava de baixo das pedras, pois tinha
cheiro de musgo, maresia, cinza, vento e suor que ia fazendo ondulações no ar
límpido. E as peles de finuras invisíveis, macias, que as meninas carregavam
para todo lado como um veludo que acariciava tudo que elas podiam tocar com
seus corpos. E ela, além de verde? Cheia de cascas de árvores penduradas,
brotos e buracos de bichinhos do nariz que fica em cima do pescoço enquanto a cabeça
está presa no joelho. As mulheres da cidade têm olhos que encontram
profundidades em olhares que merecem, são olhos bonitos, meio avoados por
necessidade de não perderem tamanha profundidade, porque afinal são olhos raros
e se olharem para tudo podem ficar cegos, sem valor, rasos. A moça verde tem centenas de olhos então não
haveria de algum ser importante e por não achá-los importantes, olham o mundo
de forma emocionada e banal. Enquanto observa as senhoras que riem baixo,
moderadamente, preservando seus sorrisos. Ela abre sua boca sem dentes com sua língua
torta de um detalhe bobo que lhe causa uma excitação ridícula, patética talvez,
uma excitação que as moças nunca sentiram a não ser quando narram coisas que
botam na boca do outro sabor de grandiosidade, gosto de pérola. O ser verde que
observa as moças da cidade sente que seu lamento por não saber cantar é menor
do que seu prazer por deformar o mundo.
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