Bem vindos ao meu quintal. Essa poesia desformada me faz carinho. Bom devaneio.
Aguçando os sentidos para acabar com o método
Deve demorar uma vida para se formar, cursa poesia. Divide com a solidão para dobrar a impossibilidade do ócio. Ao se olhar nua no espelho, só enxerga traços disformes. Tem dúvidas de sua existência. É feita da lentidão do bater das asas de algumas garças na escolha de um galho. Seu corpo acaricia os insetos, que nele resolvem explorar. Seu abraço assemelha-se o agarrar das abelhas nas flores, trepado, como de corpo inteiro. Pela noite, empresta seus ouvidos às angustias dos mosquitos que zumbem em seu entorno. Para se esquentar enrosca-se no cochicho do mar. A dança é inspirada nas pontas das folhas do coqueiro. E em raridade, quando sem preguiça deseja pensar, faz como os pássaros que brincam nos varais e se dependura de cabeça pra baixo. Tem brigas terríveis com o tempo, para afirmar sua ambiguidade, de ser metade casulo, metade borboleta. Tem gosto de vida em banho marasmo, como um cochilo na rede.
A começar pelo existir, começou a entendê-lo enquanto admirava um homem que pescava em cima do telhado do barco, o distante entrava em seu olhar. O diálogo com o silêncio lhe ensinou escuta. Movimentar-se o corpo, observando o balanço das árvores finas. O sexo, com as pequenas marolas do rio, que se atravessam de todos os jeitos e direções. Sem asas, com as aves, descobriu que pode voar. Por vezes, põe dedos e objetos frente aos olhos, assim garante as imagens. O ver vem com os sentires.
Encontra o amor no sabor do cheiro das ervas viradas fumaça, quando se tornam chá. Na delicadeza dos grãos de areia, escondidos nas dobrinhas das conchas curvadas, amedrontados pela imensidão do mar. No russo dos corpos das crianças sujas, imundas, que provam assim, sua ultima aventura e logo depois fogem do banho como mais uma de suas brincadeiras.
Descomprrende o mundo como uma criança, às vezes corre até o desequilíbrio, brinca de mistério, procura funções na fuga do risco do tédio, enjoa rápido, faz por distração e tá sempre caindo. Em tempos de obrigação empaca, injuria-se. Encara a vida, como uma peça de teatro, se não há critérios para ser gente, além da cara, que sejam todos personagens e o resto cena. Assim pode-se viver e sorrir.
Sofre feliz juntos as miudezas, as tardes laranjas introspectivas. O vai e não-vem da lagoa, que passa despercebido aos distraídos. As estrelas mais apagadas, quase imperceptíveis no céu. As pernas zebriadas das aranhas. O carinho do fim da tarde, feito pelos raios de sol. Dispensa os excessos para ir de encontro à invisibilidade da beleza.
Que é o amor senão a simplificação da vida?
Maria Carolina Abreu, 22 de fevereiro de 2014.

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