domingo, 21 de setembro de 2014

Xeque mate literário










Xeque mate literário

    Agora ele inventara de jogar xadrez. Não haveria de existir ideia pior, já que se trata de um jogo tão traiçoeiro  quanto eu. Eu não lido bem com jogos em geral. Minha mente libera substâncias que me fazem ter nó de perversidade na garganta e exalar um odor que fede  a superioridade. Se seus olhos enxergam jogadas, mas são cegos ao meu desequilíbrio, terá que lidar com as consequências. As casas igualmente pintadas e distribuídas não significam nunca harmonia, nem sequer igualdade.
    Saio de casa, já que no jogo, com a minha mente lenta, não consigo expressar o meu desejo de massacre em revanches. Trabalho o jogo, ridicularizado por mim como entediante, em revide ao outro  extremo da monotonia, com a excitação do meu corpo com outros adversários.  
  Marco com um amigo. Conversamos com palavras mecânicas, como as jogadas para avançar; o lado oposto nunca é despretensioso e isso me traz um ódio por fragilidade. Ele me convida para sua casa, ao chegar, entramos no tabuleiro e iniciamos os movimentos. Ele começa o jogo e é profundamente previsível quando  segura a minha cabeça e começa a passar sua língua pelo meu pescoço; o peão anda duas casas. Eu o afasto de maneira dengosa, encostando a cabeça no ombro, em uma simulação real de um arrepio que percorre o meu corpo; o peão anda uma casa da ultima fileira do lado esquerdo,em combinação de timidez e astúcia,  que prepara o espaço da presa de forma silenciosa. Suas mãos tendenciosas em movimentos rápidos começam a arrancar a minha roupa enquanto sua boca se aproxima de minha barriga; bispo se alinha com o peão. Eu nua dou um passo para trás até encostar a parte de trás das minhas cochas na cama; avança o peão uma  casa do outro lado, na ultima fileira, como observador, que envolta quem se aproxima. Sou empurrada pra cama e ele se posiciona por cima de mim, em uma previsibilidade patética de avanço voraz, como se em algum dia isso houvesse representado qualquer tipo de ameça para quem ri cinicamente por baixo; rainha anda duas casa e para na frente da casa inicial do bispo. Eu, como disse anteriormente, estou rindo de forma debochada; avanço com  qualquer pião. Acontece a penetração; Xeque com a rainha. Eu a como com meu rei, com uma vontade, mas tanta vontade, que seu bispo não demora nada a chegar, que faz com que ironicamente  seu corpo termine mole, fraco.
  Eu venço os jogos de forma invisível e cruel, em uma auto destruição de uma auto impotência esticada ao rei que goza de um ataque a parte humana da cabeça do adversário que falha quando se concentra na estratégia.
   Chego em casa de noite, beijo o meu namorado, pergunto como foi o dia, e ainda úmida entre as pernas, exalando um odor que fede a poder, de jogo ganho, o convido para mais uma partida de xadrez.
Ele tem um jogo, eu tenho um corpo.


Maria Carolina Abreu, 21/09/2014

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