quarta-feira, 5 de agosto de 2015

O que te mantém viva?

O que te mantém viva?

Dia desses um trem passou por cima de um corpo, cheio de corpos sobre ele. A morte virou motor de euforia dos corpos que vão de trem. Sempre encalhado, parado, super-lotado. O corpo estendido no chão era para os semblantes esgotados de alma,  possibilidade de aceleração. Da vida. Mas afinal, o que é que te mantém viva? 
Os corpos mecânicos, os sorrisos cínicos, a rotina, a rotina. O que existe de novo no seu caminho? "a culpa é do zap zap", aparece na parede de pixo. Apagar o real da sua existência, te mantém viva? Não há de ser solidão. Ter apenas um copo vazio em casa te convém? O que? Saciada? Te mantém viva ser parte da cegueira da multidão? A depressão tá te matando ou ela que lhe mantém?
O quão difícil tem sido o seu coração sem sofrer?
Tem te feito respirar melhor o ódio bufado? Então você lida bem com a mediocridade de andar armado? Quem você quer calado? Olhos cabisbaixos, de autoridade nenhuma. Sem voz, você não grita, te suplico, me conta como continua viva.
A pobre vida, a vida dos pobres, os pobres de vida, você se agarra em salvação divina? é católico, caótico ou marxista? Aqueles que são mais que ponto fora da reta, devem te manter viva, ou vai ver, só alerta. O desalinho da linha, que embola, que rasga, que escorrega, que desenrola, que faz curva. Pra não entrar na agulha. 
Hoje eu escutei: "Quando estava no ponto, o garoto, largado, louco, drogado, sedado. Ou simplismente garoto. Desceu a ladeira correndo, com olhos apertados e braços abertos. Andava dizendo por aí que era o vento."
Os corpos gargalharam. Eu me mantive viva.

terça-feira, 16 de junho de 2015

A liberdade capturada

A liberdade capturada.


A liberdade só existirá quando as gaiolas puderem voar. Enquanto isso os muros seguem aprisionando as pessoas. As crianças amam a liberdade, por isso amam a hora da entrada, da saída e do recreio da escola, por isso pulam muros. Deveríamos avisá-las que quando crescerem vão ser presas, mesmo sem estarem trancafiadas? Avisar que na nossa hora do recreio não tem mais brincadeira e que a gente não brinca, não por que é proibido, mas por falta de desejo? Seria justo falar que correr no nosso dicionário é diferente e perde como sinônimo o prazer? Falar sobre o patético sentido da vida não faz sentido para uma criança, elas são crianças, não precisam ficar preenchendo as coisas de sentido, porque nada ou tudo é vazio pra elas. Quando descobrem tudo isso, às vezes fogem, quando ainda dá tempo.
Ele cresceu e tinha lembranças do sentimento de tristeza e pena que tinha dos adultos. Hoje, ele tem pena de si mesmo. Tá afundado nesse mundo escroto, com gosto amargo do café da solidão. Demorou até começar a gostar de café. No começo tentou resistir, guardava uma música na cabeça e dançava na rua pra não perder o gosto dos picos de alegria, outras vezes, sorria na chuva, rodopiava e mostrava a língua pro céu, de vez em quando tirava os calçados e ia se lembrar do toque com o chão, dentre todas essas coisas que fazia para garantir seu prazer, sua sanidade e a segurança que não se tornaria um estúpido, certo dia saiu sem roupa, dentro da normalidade da extensão de seu mundo de criança.
Foi internado. Saiu. Cobram-lhes um monte de conseqüências que não são dele, diziam que era pra se parecer com os demais, e que são tempos de seriedade, de caminhos retos, cronometrados, sem tempo pro pique – esconde, pro erro, pra dúvida, para as inseguranças, para as desistências, sem tempo pra ralar o joelho. Não é hora de tristeza, porque não tá programada no relógio.
Ele tá sem energia, não quer comer. No momento tá morrendo. Não suporta carregar o peso de ser mais um número de estupidez na cidade. Os vizinhos dizem que é um vagabundo, os amigos que ele sempre foi assim irresponsável, os médicos diagnosticaram depressão profunda e a indústria farmacêutica se encarrega da cura pra torná-lo bom cidadão. No meio de tantas conclusões lúcidas, ele se sente cego, se sente dor, se sente só e vazio e por isso sem ler, abre a boca para doses de qualquer-coisa-que-lhe-transforme-em-um-adulto/produção.
Triste ele desconfia que continuará. Sua doença não tem cura, porque atacou a ele e ataca ao resto das pessoas, a doença que acaba com o gozo em brincar. Agora, tem cumprido suas obrigações regularmente, correm boatos que ele está muito bem. Quando olha pro seu médico que o fica a analisar, é uma das horas que sente que não é tão imbecil, não pelas análises do médico, mas sim pela própria figura dele. O seu deboche é como brincadeira que pode um dia voltar. O que ninguém nunca desconfiou é que seu sofrimento tá na insistência das pessoas crescidas em capturar a liberdade alheia.

Não é possível a liberdade dos pássaros se ainda existirem gaiolas, é preciso libertar as gaiolas até que elas não existam mais.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Dadaísmo. Existência, protesto e reconhecimento. Pixo, terceirização e loucura.








"Destruição também é criação" 



 Existência, protesto e reconhecimento. 

Era a frase a cima que os pichadores no filme "pixo", com sua forma de comunicação pareciam afirmar. Cenas para refletir: Um dos garotos se dizia que era "meio analfabeto" para ler o que estava escrito em letras de forma, mas lia todos os pixos. Outro, disse que quando parou tinha que tomar remédios, e se questionava porque fazia aquilo se ele mesmo sabia a terapia para continuar bem: voltar a pichar. Por último eles entram em uma universidade a picham toda em quanto enquanto estudantes e professores gritam histéricos. Não é grafite, é pixo. É proibido, é uma forma de estar e se comunicar com o mundo, é lugar de existência. Volta e meia as terceirizadas que trabalham na minha universidade ficam sem receber e às vezes fazem paralisações, no dia a dia, ninguém fala sobre elas. Quando os lixos começam a aparecer ou os jovens tem que subir alguns lances de escada, elas deixam de ser invisíveis. Só quando o hospital universitário está sem condições de funcionamento devido a falta do serviço mais precarizado, lembram de suas existências. Lendo um caso clínico de uma paciente de frequentes internações, o texto narra a história de uma mulher que só era concebida na cidade e nos serviços, através de sua agressividade, nos demais momentos era sempre como se não existisse, ela não era um sujeito com muitas histórias e desejos, ela era doença, era agressão. 

A cidade talvez só conviva com reconhecimento da existência da pobreza, da exploração, da loucura, da criação, da potência, da história dos invisíveis dentro do limite do caos. 

Os ouvidos tapados, 
os olhos vendados, 
e as palavras, 
só quando engravatadas.
As portas estão fechadas,  
a arte formatada, 
a universidade elitizada. 
Os pulsos cortados 
pela sexualidade
reprimida, 
pessoas que nascem
sem direito a vida.
Gente que mata pelo
ódio da
diferença
Gente que morre
com tiro
da indiferença.
A policia tortura,
dá dura
as celas tão abertas
para as pessoas certas.
Essa educação
que só te ensina a ler 
letra de forma
de tão quadrada 
parece uma forca.
Te encarceram, 
te dão remédio,
mas loucura mesmo
é viver nesse eterno tédio.
Não se combate pobreza 
com falta de liberdade,
o único jeito é
a gente engolir a cidade.
Toda nossa destruição
acabará com esse padrão,
essa restrição,
com a estupidez
da uniformização,
da formatação,
da normatização.
Acabará com o culhão do patrão,
com sua milionária prisão,
e seu perverso camburão.
Seria possível
um mundo livre
e sem exploração?
Vida longa  
a irreverencia
da pichação!





Maria Carolina Abreu.













quinta-feira, 12 de março de 2015

Lesma.

Lesma

Ela corria na praia, corria muito. Seu correr não tinha um fim, ao menos, ela gostaria que não. Gostaria não precisar ter que voltar. Porque a volta seria feita de passos corcundas, arrastados. Sua corrida para seu desgosto era lúcida. A corrida não era capaz de lhe tirar nenhum minuto de sua lucidez. A sua boca tinha um riso de choro, um bocejo de desespero. Os passos apressados lhe davam o prazer de perder o ar, substituindo a sensação das outras angústias. A volta tinha lugar, mas não tinha morada. Era volta de lesma, que queria ficar pregada no chão e dormir em si, transformar o corpo em casa, onde só ela poderia entrar. Voltava, e agora estava tão distante de onde saiu que parecia pisar para um infinito triste. Ela sabia que não existe fuga, porque a fuga traz outra fuga e outra e outra e outra. Por isso corre, corre até poder sumir e carrega nas costas as toneladas desse não-poder, como se pudesse ser um ponto que faz parte do invisível. Entra no ônibus pra voltar a sua residência, o ônibus tem fim e volta ao começo, mas roda como a cabeça dela, e por isso desejava não precisar descer. Desejava rodar sentada por toda a vida, sem que aquele ônibus não parasse um minuto de rodar, rodasse até poder sumir, como um ponto que faz parte do invisível. Desce tonta, desce lesma. Atravessando o sinal, percebe um ponto invisível, uma senhora atravessa a rua, no ritmo dos seus passos, dando arritmia na cidade-produção, sua lucidez é desacelerada. A menina caminha até ela no meio da rua e segue seus passos, sem pressa, sem angústia, apenas com o coro das buzinas dos carros que lhe arrancam um sorriso. É possível escutar o som da correria que não tem pra onde fugir. As duas não precisam trocar palavras, apenas se olham.  A lesma da faixa de pedestre apresenta a moça a sua morada.

Maria Carolina Abreu

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Uma surpresa dentro do serviço social: Psicologia Social, uma experiência de aula livre.

Uma surpresa dentro do serviço social: Psicologia Social, uma experiência de aula livre.

O primeiro aprendizado com a “disciplina” de Psicologia Social”, foi a própria abertura para re-significação da universidade e da sala de aula. A chance de desconstrução e questionamento de uma instituição e de espaços que costumam ser autoritários/hierarquizados. Partindo do começo, a postura que foi adotada de indagação do conteúdo que seria abordado, com o questionamento sobre o que nós estudantes gostaríamos de aprender (o que nunca houve em seis períodos), já nos colocava em uma outra posição da qual não estamos costumados a ocupar que é a posição de sujeitos também construtores do nosso processo de formação.
A partir daí já começava a enxergar a sala de aula como espaço democrático e passível de contratos, o que me entusiasmava muito mais a participação, já que não era um espaço hostil, que eu precisava ter medo e onde a figura do professor não representava para mim uma imagem opressora que detinha poder/saber, mas um espaço de troca que compartilharíamos as variadas formas de saber, sem que uma precisasse se sobrepor a outra. Esse elemento facilitava e instigava o debate e a reflexão dentro da sala de aula, em uma análise que se podia partir de nossa realidade e experiência, sendo então fundamental, já que nas outras disciplinas para que haja discordância os professores um embasamento teórico, o que culmina muitas vezes em silênciamento. Assim todos parecem estar flexíveis em se rever, sem que haja uma verdade única ou só um modo de pensar.
A possibilidade de reflexão do nosso cotidiano, da nossa participação política, seja dentro da universidade, no bairro, no trabalho, na comunidade e etc fez com que houvesse a possibilidade de romper com o academicismo engessado e vincular as formas de saber acumuladas com a nossa história ao conteúdo apreendido dentro de sala, avançando à reflexão de como pensar esse conhecimento na nossa futura prática profissional.
Por isso achava genial muitas vezes ter havido uma parte de informes no início da aula (que acho inclusive poderia ser estendido a atividades extra-uerj) fazia com que estimulasse a gente a pensar nos processos políticos que fazem parte de onde nós estamos em uma perspectiva que nós, sujeitos coletivos, somos construtores e de que forma poderíamos vir a intervir. Este ponto é positivo porque muitas vezes nos perdemos em divagações sobre a luta de classes, sem pensá-la na realidade em que vivemos o que acaba em séries de abstrações, onde acumulamos um monte de inseguranças de como poderemos fazer a articulação desta teoria com a prática. Além disso, a separação rígida dentro do serviço social entre a militância estudantil e a contribuição pra nossa formação e para a prática profissional, dá a entender que ao invés da militância ser potencial, ela é entrave.
Outro elemento que acredito ser fundamental é que era uma aula “livre” de medidas coercitivas, como por exemplo, a chamada, o que acredito ser muito inteligente, tendo em vista que no serviço social é muito comum um discurso presente nos professores de defesa do ensino presencial, que é utilizado basicamente para barrar os alunos trabalhadores da sala de aula que chegam atrasados e colocar aquele espaço como de saber supremo e de garantia de formação de bons profissionais, mesmo que as aulas sejam meramente expositivas e sem que a prática pedagógica seja concretamente repensada. Com essa postura da possibilidade de escolha afastamo-nos de uma relação tutelada, onde o professor na representação da figura de autoridade sempre saberá o que é melhor para o aluno, em uma relação verticalizada.
Continuarei a insistir nos aspectos pedagógicos porque acredito que o próprio processo de construção dentro da sala de aula, já é um processo de formação, que na maior parte das vezes é deixado de lado pela urgência de aplicação do conteúdo, onde não temos o costume de avaliar a absorção do mesmo. Aliás, aproveitando o gancho sobre avaliação, tivemos a boa surpresa de lidar pela primeira vez com auto-avaliação, o que permite uma auto-crítica sincera (ou não), mas que fez com que pudesse refletir a origem dos meus interesse, dos meus limites e do que é possível, pensar o que e o porque da curiosidade de certos aspectos, despertar a instigação e etc. A autonomia está diretamente vinculada a responsabilização do aprendizado.
Além disso, a sensibilidade com que foi gerida à avaliação é de suma importância, uma vez que nós estudantes costumamos estar nervosos e constrangidos, já que somos sempre colocados em posição de dar respostas certas e não de fazer perguntas, dividir as dúvidas, estar livres para associações. Estamos sempre presos a um molde de prova (que muitas vezes se resumem a cola e decoreba) ou de trabalhos que o professor transforma o momento de troca em medo, em avaliação de “bom desempenho formal/oral”.
Nesta matéria a professora foi democrática e nos deixou tranqüilos em ter a preocupação de sempre afirmar que não temos a obrigação de saber aquele conteúdo, que podemos fazer perguntas. Aliás, o meu grupo, por exemplo, não fez uma apresentação do texto, levamos pra sala a apresentação do debate do próprio grupo, onde debatíamos, discordávamos entre nós e trazíamos novas questões, ou seja, foi mais um exemplo de mecanismo democrático dentro de sala.
Sobre o conteúdo, pra mim esteve o tempo inteiro ligado a tudo que foi dito a cima e abordarei mais a frente. Como aprendi, é preciso antes, que eu situe o terreno de onde estou falando, por isso é preciso explicitar que o curso de Serviço Social ainda que progressista no aspecto de pensar criticamente a sociedade, sobre outra ótica tem uma “vivência” conservadora, o que faz com que tenhamos uma rejeição a muitos autores; que mesmo lidando com humano, a subjetividade seja algo pouco abordado e deixado em segundo plano; e o que nos falam sobre a psicologia está sempre focado no papel normatizador que ela pode cumprir, muito mais do que em pensar no que poderíamos “beber” de seus avanços em exatamente contestar esse papel (o que levanta mais uma barreira). Esses três paradigmas puderam ser re-construídos através da “disciplina”.
O conteúdo das aulas nunca significava pra mim apenas apreensão teórica, mas a possibilidade de reflexão da futura prática profissional, da militância e dos processos pedagógicos. O primeiro texto trabalhado: “Micropolitica: cartografia do desejo” de Felix Guatari e Suely Rolink começa por abordar a cultura de massa que produz indivíduos normatizados e submissos, em um sistema que ao longo do tempo se tornou complexo e sutil.
Posteriormente toca em um ponto que me chamou muita atenção, que é quando vai discutir a subjetividade, quando ele diz que sua produção não é algo a ser preenchido, não é uma “falta”, e sim uma formação que se fabricada, moldada na relação. Neste momento me veio algumas questões em minha cabeça em relação a minha formação. Primeiro que o pensamento crítico que tanto falamos no serviço social muitas vezes vem de forma pronta, como uma substituição, sem levar em conta a leitura critica (não acadêmica) que os próprios sujeitos fazem de sua realidade, que trazem angústias e contradições neste olhar. Por isso pra mim é impossível pensar em respeitar a autonomia do usuário, compreende-lo como sujeito, se esse não é um exercício entre nós e os professores.
Se nós futuramente lidarmos com o usuário/o outro a partir de um olhar pronto/viciado, corremos o risco de colocá-lo em posição de vítima em uma perspectiva com enfoque sempre na resolução da falta e não na construção com ele, a partir do olhar dele, de sua rede, de seu desejo, em sua potencialidade para que ele possa pensar a resolução de seu problema com o auxílio do serviço social/de sua instrumentalização. Ou seja, é necessário que essa forma crítica de leitura da sociedade não seja única e fechada, sendo auto-refletida sempre para pensar como é possível sua aplicação para construções de processo de singularização. Aliás, mais uma vez situando de onde falo, é um lugar complexo, pois na condição de estudante, que ainda não teve contato com a prática, o que foi exposto são meras angústias que estão podendo ser levantadas na apresentação deste contraponto à formação marxista.
Em outro momento utilizamos o SUAS e um método interessante, pois, havia a todo tempo questionamento do nosso discurso que naturaliza uma série de “categorias” que são reproduzidos por nós de forma mecânica, colocá-los em cheque, pensar como utilizamos na prática, como por exemplo, o conceito de “emancipação” ou “vulnerabilidade” e o que representam de fato no nosso trabalho com o usuário ou se apenas se tronou uma espécie de chavão que nós reproduzimos. E naturalizamos um novo discurso: “Nós não emancipamos o outro, construímos essa emancipação com ele” e eu fico a refletir se eu sinto que estou em uma educação, se tenho uma relação com os professores que é autônoma e emancipatória, na verdade eu acho que ainda não e essa matéria só deixou isso ainda mais explícito pra mim.
A busca pelo significado destes conceitos e de como eles poderiam servir sem que percebamos e de como podem a uma lógica normatizadora. O cuidado com expressões como “exclusão” e “reabilitação” pra mim foram centrais, para pensar: “Como assim incluir?” “Quem é que ta fora desta sociedade?” “Na verdade reabilitar o que?” “Significa incluir e reabilitar no mercado de trabalho?” “Eu como possível assistente social quero colocá-lo dentro dos “padrões normativos de vida”? “Quais são os meus valores? É possível que me afaste deles?”. São perguntas, que fazem surgir outras e que não pretensão de reponde-las no momento, estar sempre levantando-as já me parece um exercício importante.
Em conclusão, esta aula me proporcionou pela primeira vez uma sensação de liberdade, que é possível uma construção de aula que seja democrática e não-castradora. Que eu pense não só no conteúdo, mas na forma de me pensar também, me pensar enquanto parte de um grupo de uma turma, de como são construídas nossas relações enquanto um coletivo e que essa já pode ser (ou não) uma experiência de lidar com sujeitos, válida para quando for assistente social e estiver trabalhando com um grupo. A aula veio para me mostrar na forma e no conteúdo que qualquer formação na área de humanas que não se propõe formar meros reprodutores, se estiver presa somente aos livros, sem olhar e escuta atentos, sem estar preocupada com o próprio cotidiano, está também (de outra forma) reproduzindo práticas disciplinadoras e aí eu acredito que seu projeto esteja fadado ao fracasso.

Maria Carolina Abreu Peixoto Paes.









segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Prazer, sou seu incômodo.






Prazer, sou seu incômodo.

E esse controle do corpo, do passo, do louco? Sociedade organizada, adaptada, padronizada me faz odiar câmeras, espelhos e a sua ordem implementada. Qual é sua fadiga com meu porte, meu corte, com o mal cheiro do meu cangote? De onde surge a necessidade de me alinhar, me passar, me rotinizar? Eu sou cheia de amarrotado, de embaraço, de desengonçado. Para que a pressa, a festa, uma bela testa? Quero miúdo e canto. Por que minha aparência, minha reticência, minha vivência te incomodam tanto? Não admito cordas vocais com a qual tentam me prender, oprimir e constranger. Eu vou continuar sendo muito nua, muito suja, muito lua. Enquanto isso, morrem suas certezas, degradam-se suas espinhezas. Vou ser livre sem chibatadas, sem boca calada, sem roupa, corpo, postura, cabelo, desejo, cheiro e sandália adequada. Vou pisar na prova acertada, cuspir na sua cara amarrada. To saindo sem o seu consentimento, por sobrevivência e resistência, pra ser mulher rodada.


Maria, 22 de janeiro de 2014