Bolhas de água sem ar.
Sofria de uma sede insaciável, que dava falta de ar, como um corpo sem ventilador.Pela janela observava uma mala em cima do teto do ponto de (ônibus) em movimento, o aperto da mala em sintonia com a liberdade da queda. Se a mala tivesse aberta conseguiria respirar? De noite se revira na cama na busca de uma posição que lhe deixe respirar, em um contorcionismo de suplicio para que o invisível lhe toque o corpo, na possibilidade de se acalmar.
Nascer humano traz a falta e um sistema nervoso. Por essa condição de humano, pressupõe-se castração. Educam o amor, que naturaliza-se. Em algum momento sua fragilidade já virou agressão? Se procura no espelho, e narciso, talvez não fosse idolatração, mas busca. Ninguém que se não o outro é capaz de vê-lo, no sentido de sua integralidade de sentidos. Essa talvez seja a maior perversidade -(HUMANA), humana,no sentido romântico da palavra. Se pudesse sair de si e se ver, liberta de si, encontraria ar?
Vai a praia, tentar matar a sede, se aventura nas ondas e leva uma sequência de caldo, a experiência traz um monte de sensações confusas, o cabelo que embola em seu rosto parece compactuar com aquela água marrom agressiva que que invade os buracos de seu corpo em busca de acabar com seu ar. Teria encontrado o ar agora? A convivência com sua existência é quando nos falta?
Se afastando daquele turbilhão de movimentos da água. Boiou e saiu com fraqueza do mar. Passado o susto, recordou-se do seu filtro com a água que não mata sua sede. Se sentia como o copo, que dizer, como a bolha do copo da água que faz movimentos bruscos, ainda que aparentemente singelos, descendo e subindo eufóricos e sufocados, que quando chegam a superfície viram hegemonia da substância. Seu corpo tocara finalmente o invisível?
Então indagou um absurdo: Será que já houve alguma pessoa, apenas uma no mundo, que ao levar um caldo, tenha sentido um minuto de prazer? Em cima do ponto de ônibus tem uma mala fechada, embaixo, uma pessoa que não respira.
Maria Carolina Abreu, 25/09/2014

Como diria C.L. um soco no estômago...
ResponderExcluirGostei muito!