segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Não sou uma só, nem uma sempre


"Eu sou burguês, mas eu sou artista"
(Cazuza)









Esse é um dos meus textos que traz de forma mais explicita minhas angústias cotidianas. O que me move é a busca por um conhecimento profundo sobre minhas próprias contradições. O Cazuza nesta música, acho que traz um pouco isso, apesar de não saber exatamente a profundidade do que ele queria dizer. Segundo Karl Marx, eu não sou burguesa porque não tenho posse dos meios de produção, mas no mínimo uma pequena burguesa e de alguma forma, por ter crescido e ter sido formada por marxistas isto permeia minha vida. Em misto eclético de questionamento sobre poder, politica, liberdade, privilégio, individualidade-ismo, autoridade, subjetividade e etc apenas busco me perder. 
Faz pouco, disse um amigo meu algo que muito me/eu contempla: "me ocorreu uma potencialidade própria da sua escrita, algo que ela tem de especial. Como você é capaz de discordar de si e contrapor, justapor, inverter, etc, etc, isso dá margem para criar personalidades. Maria A discorda de Maria B e de Maria C..." E é só isso.


Não sou uma só, nem uma sempre

Ao contrário das pessoas que estão sempre por completo, que são por inteiro, dispostas a se entregar e a qualquer momento se jogar do abismo para sustentar o fetiche da liberdade, me apresento como contrário, não como alternativa, simplesmente como o oposto a intensidade. Ponho meus problemas ao centro do universo, reflito, e os diminuo, justificando-os como  tolice intrínseca a juventude. Condeno o pensar, por gastar o tempo do fazer. Não encontro sentido no agir, minutos depois gozo do ócio e após o destruo. Generalizo, relativizo. Inércia reflexiva, trabalho produtivo. Realidade concreta ou cabeça quadrada? O imediatismo das regras é excludente e anulante diante das tentadoras exceções, não importa. Coletivo vem sempre antes de individuo. Observo o micro, a hegemonia é entediante e encaixotada. Crucifico, no olhar de vitima, ironizo como sujeito. Sofro pela avaliação, que se materializa sempre em um atestado de incapacidade, mas a possibilidade de mudança, acelera o crescer. Nunca reclame de oportunidade. Amo tudo até cair no vazio, tenho repulsa do amar. Perda de sentido vira descontrole. Sou sufocada pela coerção, descubro que a coerção não é possibilidade para todos, sufoco se torna piada. Sufoco tem duplo sentido. Egoísmo. Dar repostas exaure, mas massageia o ego, que aconchego um mundo sem explicações, que humilhação um mundo sem vaidade. Humildade e arrogância, não se contrapõe, mas firmam contrato. Nojo e angustia de aprovações, mas silencio pelo privilégio. Autoridade da fala massacra o interesse. Mas a fala se tornou autoridade, depois de ser massacrada. Reprodução da opressão, revide justificável. Pressa se justifica na sensibilidade ou na necessidade. Ela se justifica quando atropela o tempo do outro, que é claro, vive de mimo. A cabeça pensa no tempo que não é determinado por si? somos pobres de invenção, olhamos para as barrigas sem a capacidade de imaginar o que pode existir de gostoso dentro dela, como uma cobra que engole um elefante. Sacrifício. Ninguém sabe ao certo para quem é, por escolha, o chão gelado e ao fim não importam as consequências, nunca será bom o suficiente, ou se for, será bom  demais ao ponto de não ser humano. Exclusão e reverendo submissos ao julgar. Sobrecarga de  exposição que não sobrevive sem a abstração. Elaborar a auto evaporação e na primeira oportunidade extrapolar os vícios. Oscilação. Sou dúvida, contradição, sou metade.

Maria Carolina Abreu, devendo data.




2 comentários:

  1. Contigo amplio minha percepção para o que sei que existe, mas não vejo. Obrigado pela sua contraposição sensível na minha vida.

    “Naturalmente que os doutrinários não se satisfarão com uma definição tão vaga; desejariam formulas categóricas: sim, sim e não não. As questões de sociologia seriam bem mais simples se os fenômenos sociais tivessem sempre um caráter acabado. Mas nada é mais perigoso do que eliminar, no desenvolvimento de uma precisão lógica, os elementos que contrariam os nossos esquemas e que, amanhã, os podem refutar.”

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sua citação é simplismente genial tu mostra sua bela abertura a reflexão partir desta sensibilidade. A construção cotidiana contigo é um grande aprendizado.

      Excluir