quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Liberdade opressiva


"Tradição e traição são duas palavras de escrita e fonética tão semelhantes em nossa língua quanto o são interligadas em seu significado mais profundo. Não há traição sem tradição. Assim como não há tradição sem traição" 
(A alma Imoral de Nilton Bonder) 





Infelizmente ao crescer, somos gradualmente engolidos pelos hábitos e consequentemente vamos empobrecendo nosso espírito questionador, como se tudo fosse dado, nada pudesse ser transcendido, rompido, transformado. A peça "A alma imoral" e meu texto falam um pouco sobre isso, sobre a possibilidade de reflexão, ruptura e re-perspectiva sobre a traição. Fala da possibilidade de construção da liberdade a partir de cada sujeito que se propõe a olhar para si e se repensar. 

Liberdade opressiva
  
Porque é, a traição imperdoável? Traição não meche com amor. Meche com o seu poder sobre o outro. Traição meche com ego. Se perdoa, não tem amor próprio. Faz o clássico papel de idiota. Idiota pra quem? O sofrimento pelo parecer, talvez seja o preço pelo mundo das perfeições. Eu, que sou idiota ao acordar aos tropeços e que saio a sorrir pelas ruas com a calça ao contrário, já não mais me incomodo com a traição. Porque não, o questionamento com as traições diárias? Com a falta de sensibilidade, de escuta, de compreensão, de carinho, de comunicação. Traição? Suprir desejos do corpo? É dessa traição que estamos falando? Que patético. Eu, que já sou idiota cotidianamente e ando sempre de chinelo, vou na contra corrente, destruo a ideia de traição, pois a torno publica. Assim, meu papel de idiota se torna banal. Nesse meio tempo, existe uma necessidade de classificação, por isso, me torno imoral, ou, me tornam imoral, o que confesso, pra mim não faz diferença alguma, a imoralidade é sempre uma grande diversão a se lambuzar. Sem rodeios, sem hipocrisia. Muitos cornos são muito bem amados e desejados e enciumados por seus companheiros. Inúmeras relações de traição são sustentadas, até que as tornem públicas. A sociedade do espetáculo te molda, te julga, te seleciona, te direciona e ao fim, te humilha. A aprovação é o que há de mais perverso. E Não. Não estou defendendo o amor em grupo ou o amor livre. De gente que vive de luz, paz e harmonia, se amando. Nem sustento o discurso de que com o câmbio da sociedade, as pessoas vão se amar livremente, como dizem. Essas ideias me sufocam. Eu defendo o amor, do jeito de cada um, com seus dilemas e acordos, sem interferências morais. Eu quero o nu sim, mas em meio à nudez, eu quero estar coberta, completamente coberta, cada centímetro do meu corpo. Eu quero a legalização, eu quero plantar, mas em roda grande, eu passo a bola. Eu quero estar com dez pessoas, ou apenas com uma. Me incomoda o repetir no lugar do criar, a unanimidade. O controle e a avaliação, também me incomodam. Incômodos físicos aparecem quando se trata de bons modos e boas maneiras. Extremamente incomodante essa ideia de filosofias prontas a serem seguidas. Convivo, cotidianamente com uma terrível incomodação com a verticalidade, a imposição, a burocracia e a explicação. Me deixa exausta, tudo que não roda, não pensa, não troca, tudo que não é ciclo, que não é escolha. A liberdade pronta, que define se você bate ou não as asas, te engole, te atropela, te oprime! No mais, desculpem o incomodo e passar bem, digo isso, porque, mesmo amando muitas pessoas, na verdade não tenho vontade nenhuma de abraçá-los na despedida.

Maria Carolina, 10 de Novembro de 2013

2 comentários:

  1. "Eu defendo o amor, do jeito de cada um, com seus dilemas e acordos, sem interferências morais. Eu quero o nu sim, mas em meio à nudez, eu quero estar coberta, completamente coberta, cada centímetro do meu corpo."

    Maria Carolina, estou amando ler seus textos. Quero mais!

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    1. Oi Diane, também gosto muito deste trecho. Fico muito agradecida e em breve postarei novos textos, valeu!

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